ALFABETO
Quando, em Setembro, contactei com os formandos de “Escrita Criativa” captei, de imediato, estar em presença de uma realidade plural de sensibilidades e de uma multiplicidade de saberes. Então, comecei a perceber que uma promessa de alegria tinha marcado encontro para aquele espaço.
A alegria íntima de cada um olhar o OUTRO como alteridade de si, mas também sentir-se como diferente do OUTRO. E se, como é o caso, esta vivência for partilhada simultaneamente pela escrita, a imagem de cada um no grupo vai-se tornando mais nítida, as barreiras pessoais vão-se vencendo e rasga-se a janela aberta sobre o SER.
Este desafio que todos aceitaram começa agora a expandir-se para os OUTROS, com a partilha deste nosso primeiro trabalho publicado no Blogue da US da Fundação Prior Sardo.
É o nosso ALFABETO!! O alfabeto dos formandos
Albertina Vaz
António Capote
Dores Topéte
Fátima Martinho
José Sarabando
Júlia Sardo
Maria Jorge
Víctor Cabrita
Aguardamos os comentários…
Fernanda Reigota
a
ALBERTINA VAZ
Sou o A de alecrim e de açucenas que brilham nos campos verdejantes duma planície imensa que parece não ter fim.
Sou o A de Alentejo mar de trigo sangrando no amanhecer dum dia novo.
Sou o A de Abril que sendo um sonho não foi ainda cumprido.
Sou o A de angústia perante um homem enroscado sobre si mesmo e tapado com papéis a dormir na soleira da minha porta.
Sou o A de ansiedade nos dias em que nada parece querer resultar.
Sou o A de amizade quando o azul do mar se esvanece num pôr-do-sol sereno e pacífico.
Mas também
Sou o A de acção quando a vida se cansa de que um dia se esgote a seguir ao outro.
Sou o A de alvorada quando a manhã desperta a luz de um dia novo.
Sou o A de audácia sempre que surge um novo desafio.
Sou o A de amor porque se nada mais resultar há sempre lugar para um abraço e um sorriso.
b
JÚLIA SARDO
- Eu sou o B de boneca, que faço as delícias de algumas crianças, que me fazem bibes e me põem babetes.
- Eu sou o B de banco, onde as pessoas com menos capacidades se sentam deliciando-se com a sombra das árvores, em dias de calor.
- Eu sou o B de bolo feito com chocolate e apreciado por tantas pessoas.
- Eu sou o B de barco, que vou para a pesca, no mar ou na ria, em dias de bonança, ou simplesmente passear em dias de sol.
c
JÚLIA SARDO
- Eu sou o C de cama onde tantas pessoas repousam.
- Eu sou o C de cansada por colher as beldroegas, que servem para confeccionar alguns pratos.
- Eu sou o C de cana, que vai para a pesca, proporcionando uma boa caldeirada, com o peixe apanhado.
- Eu sou o C de candeia, que ilumina e dá luz a tanta gente
d
ALBERTINA VAZ
Sou o D
Isto de ser o D deu-me vontade de dar uma história à Duda que nasceu num dia de muito sol em que os dinossauros da parede do quarto dela se dignaram curvar-se devagarinho e deleitá-la cantando baixinho, digerindo a declaração de paz que um passarinho, dali e dalém, havia transportado no seu biquinho.
Terá vindo do deserto ou saiu debaixo da cama? – deduziu a Ana que também estava a gostar do dedo da Duda que de tão pequenino queria desafiar o mundo e desfilar pela rua contrariando as palavras tristes do desgosto, da desgraça, do desistir ou do despachar o despique ou o diferendo entre o grande dinossauro e o pequenino que queria diferenciar o verde das outras cores do doido do dono da árvore direita do quarto da Duda.
E resolveram as duas, de mãos dadas, sonhar com os sete anões dorminhocos que passaram a doze e com a galinha dos ovinhos de oiro que nos deu duzentos ovos para fazer um doce gigante e distribuir pelos meninos de cabelos doirados e por uma dúzia de dragões amarelinhos.
E desta dádiva que são as minhas netas eu quis fazer uma lengalenga desenfreada com uma receita ditada por uma donzela que apareceu e se foi sem se dar por ela. Seria a Cinderela ou a mãe dela?
e
JÚLIA SARDO
Eu sou o E de estrela, que brilha no céu, enquanto a luz do sol não aparece.
Eu sou o E de espinho, que serve de defesa a muitas plantas.
Eu sou o E de espectáculo, que faz tantas pessoas felizes ao deixarem-no entrar, no seu espírito.
Eu sou o E de esponja, que ajuda na execução de arranjos florais, dando-lhes equilíbrio e facilidade de apoio.
APRENDIZ DE FEITICEIRO (OU QUASE)
VÍCTOR CABRITA
Eu sou o feiticeiro
Que com ferro e fogo
Fará um feitiço fenomenal.
Fabricarei numa fabulosa fundição
Um formidável foguetão
Que forjará a forma do futuro.
Finalmente, já em funcionamento,
O flamejante e furioso foguetão,
Como em filme de ficção,
Pelo firmamento flui, qual flecha
Rumo à fonte da felicidade
(Que está lá bem ao fundo… e sem farol…)
A terra fecundará.
Para se fornecer do seu filão,
Que depois de fermentado,
Mas o foguetão não regressará,
Por lá, ferrugento ficará.
E eu também por aqui me fico.
Só me falta afirmar
Que o feitiço fracassou:
A felicidade aqui nunca floriu.
E assim,
Esta fantasia chegou ao
FIM
g
VÍCTOR CABRITA
GUERRA NO GALINHEIRO (OU UMA FÁBULA DOS TEMPOS MODERNOS)
Eu sou o G
Da galinha e da gaivota,
E do peru, que não tem o G, mas faz glu! glu!
E ainda do gato e do grilo.
Enfim, de tanta gente, que dava para fazer outro grupo, começado por G,
E também do adjectivo Grande (logo vão saber por quê).
A cena ocorre num galinheiro, num dia gélido, na Serra do Gerês.
A galinha encontra um grão de girassol na sua gamela, e com olhos de gula diz «olha que giro!», e volta-se para a sua amiga, a gaivota.
- A que te referes? - Pergunta a gaivota.
- Na minha gamela está um grão de girassol – informa a galinha – vou ingeri-lo, e já! Vai dar mais cor á gema do meu ovo.
- Não sejas gulosa – diz a gaivota – eu também gosto de grão de girassol.
- Nem penses que vais ingeri-lo. É meu! – grita a galinha, indignada.
- Não é justo! Não estás a ser solidária. Considero-te como se fosses minha irmã gémea – diz a gaivota, e continua: - Não vamos começar a gritar; não ganhamos nada com isso – Põe-se a pensar e remata categoricamente (pelo menos assim o julga) – podemos guardar o grão, semeá-lo, e depois de germinar, deixamo-lo crescer e colheremos muitos grãos no próximo ano.
- Pois sim!..- contrapõe a galinha – mas para isso é preciso muito tempo. Não gosto da ideia.
- Então, podemos dividir o grão em duas metades – sugere a gaivota. Que se gaba de ter sempre uma solução imediata para qualquer problema. – O gato e o grilo não gostam de grão de girassol, e sendo assim…
- Não! Também não gosto dessa ideia. – Interrompe a galinha, gritando e gesticulando bruscamente com as asas – Também não penses em gamar-me o grão de girassol. É meu! Já conheço, grandemente, a tua fama de gatuna – diz, concluindo (e de forma bastante indelicada, ajuíza e escreve o narrador, embora não querendo aqui tomar parte na contenda).
Começa de imediato, uma guerra entre ambas as criaturas.
Grassa grossa gritaria. Acorda o gestor do galinheiro que dorme na sua gruta.
O gestor, um peru, que não tem o G, mas faz glu! glu! É um gerente gá-gá, gordo, gasto e pitosga.
Aproxima-se dos gladiadores e grita, grita guturalmente.
- Qual a causa desta gritaria?
A galinha e a gaivota, prontamente, o informam.
O peru que não tem G, mas faz glu! glu! Pensa rápido e sentencia de imediato:
- Afinal, o grão até é meu! Querem saber porquê? – eu digo: Porque aqui, no galinheiro, eu sou o mais grande de todos: o mais grande – repete enfaticamente.
Dito isto, pega no grão e engole-o.
O grão escorrega pela goela abaixo.
- Oh, glutão! – Grita a galinha.
- Oh, Golias! – Grita a gaivota.
O narrador interrompe o diálogo, corrige a fala do peru, e informa os ouvintes menos atentos que não é correcto dizer-se mais grande, mas sim, maior.
Retomemos o diálogo.
- Tu não estudaste gramática? – Questionam, em uníssono, a galinha e a gaivota, ambas com os olhos pasmados da surpresa por assistirem a tanta ignorância; não sabiam que o gestor do galinheiro não passava de um mero pato bravo.
- Porque dizem isso? – Pergunta, perplexo o peru, que não tem o G e engasgado, nem sequer faz glu! glu!
- Estuda gramática e saberás a resposta – respondem, gentilmente, a galinha e a gaivota.
O narrador abre um novo parêntesis.
Aproveita a oportunidade para esclarecer, antes que o alertem, que sabe perfeitamente que na serra do Gerês não vivem gaivotas, e muito menos, em galinheiros, conforme está grafado no início. Não é tão ignorante como o peru.
Esta grafia é um exercício de ficção.
O narrador não é um escritor realista; nem sequer escritor é, e nem tem aspirações a sê-lo.
De qualquer modo. Apresenta aos ouvintes as suas desculpas por tomar certas liberdades de imaginação, e ter a ousadia de as expor neste papel
Vamos, finalmente, ao moral desta história.
Moral desta história:
Saber gramática não é condição necessária e suficiente para se poder encher a goela. É preferível ser-se grotesco, gá-gá, grande e gordo.
Se tiverem alguma dúvida, quando forem à Serra do Gerês, perguntem a uma galinha ou a uma gaivota que eu conheço (são meus amigos).
Posso dar-vos a morada do galinheiro, se estiverem interessados.
Embora sendo bichos letrados, eles continuam, ainda hoje, à espera que apareça no galinheiro, vindo sabe-se lá donde, outro grão de girassol; e esperam também que o peru, sendo agora ainda mais grotesco que antes (continua sem saber gramática), vá fazer glu! glu! para outro lado.
Eu, narrador, solidário para com os meus amigos, faço votos para que isso, brevemente, aconteça.
h
DORES TOPÉTE
EU SOU O H...
De Habilidade, que permite ser capaz de fazer alterações no mundo a nível político e económico.
Eu sou o H...
De Hércules, um homem de extraordinária bravura e valentia, um semideus romano que simboliza o poder militar.
Eu sou o H...
De Harmonia que induz as pessoas a viver em paz dentro do ambiente que as rodeia.
Eu sou o H...
Do verbo Haver.
Eu sou o H...
De Helicóptero que tanta ajuda deu no verão a apagar incêndios e a salvar pessoas.
i
ALBERTINA VAZ
Sou o I duma ideia que me ocorreu mal o sol surgia no horizonte
Sou o I dum idiota com que me cruzei ao atravessar a estrada
Sou o I do imbecil que não parou para partilhar o seu braço com o invisual que esperava atravessar a rua
Sou o I da indiferença que encara o combate à pobreza como qualquer coisa que só diz respeito aos outros
Sou o I de igual ao menino deficiente numa cadeira de rodas
Sou o I do idoso que vai deixar de viver sozinho sem um bom-dia de quem ajudou a crescer
Sou o I da inquietação perante uma sociedade que está a perder os valores da entreajuda
Sou o I da integração e de oportunidades iguais num mundo em que todos temos um papel a cumprir
Sou o I da inclusão que se concretiza em condições de sucesso
E se esta IDEIA, INCONTROVERSA e INCONVENIENTE, que me surgiu ao acordar se tornasse numa IDENTIDADE do ser humano que com a sua INTELIGÊNCIA teimasse em INUNDAR o mundo inteiro?
j
JÚLIA SARDO
- Eu sou o j de jarra, que enfeitada com flores dou alegria e embelezo o ambiente
_ Eu sou o j de Julieta, que vai toda janota, porque leva uma jaqueta bonita.
_ Eu sou o j de janela, enfeitada no parapeito com flores coloridas e que deixo entrar a claridade na casa do João.
_ Eu sou o j de jogo, que leva muitas pessoas entusiasmadas ver jogar um determinado jogador.
_ Eu sou o j de jardim, onde tantas pessoas passeiam, admiram a natureza e repousam à sombra das árvores.
k
DORES TOPÉTE
Eu sou o K
De Kastrup, aeroporto situado em Copenhaga, Dinamarca.
Eu sou o K
De Katzir, cientista e estadista israelense. Nasceu em Kiev antes da Fundação do Estado de Israel, ao qual presidiu de 1973 a 1978.
Eu sou K
De Kabul, a capital do Afeganistão.
Eu Sou o K
De Kasai ou Kassai, um rio da África equatorial, nasce no centro de Angola, separa este País do Zaire, após a separação em duas zonas (Kassai Oriental e Kassai Ocidental), desagua acima da Kinshasa.
Eu sou o K
De Kennedy (Jonny), estadista norte-americano que em 1960 foi eleito presidente dos EUA e acabou assassinado em 1963 de forma pouco esclarecedora.
Eu sou o K
De Kwarshiokor (síndrome) de desnutrição extrema (caquexia), devida a insuficiência alimentar global, observada em crianças do 3º mundo. Esta insuficiência é provocada pela alimentação à base de amido em substituição do leite materno.
l
ANTÓNIO CAPOTE
Eu sou um L por adorar o meu lar, onde gosto de estar no meu cantinho, aconchegado nas noites de Inverno com uma manta de lã, em que por vezes, no calor das conversas, nos tornamos uns “labaredas” (tagarelas), com os nossos lábios crispados, indo enfiar-nos em verdadeiros labirintos.
Sou um L que gostou de passar algum tempo no jardim ou no pequeno quintal laborando alguma lavoura, parecendo um verdadeiro lavrador, onde colho como que laboratorialmente, alguns produtos, como as doces laranjas que me fazem lamber os lábios numa labuta agradável, apreciando os patos naquele lago artificial.
Sou o L que esta noite sonhou viajar por todo o lado, visitando Londres, Lourdes, Lisboa, Lafões, Lajes, Lalim, Líbano ou Lamego.
Sou o L que assisti ao roubo feito por um ladrão, que atacou de lado aquela senhora com roupa lavada, quando descia a ladeira, que dá para a leitaria, onde chegou lacrimosa, balbuciando uma ladainha contra aquele malfeitor.
m
FÁTIMA MARTINHO
Eu sou M de Mãe
Que por amor, todo o seu ser deu, aos filhos que gerou
Eu sou M de Maria
Mãe de Jesus, que por amor um dia, a todos nós abraçou
Eu sou M de maldade
Quando trato mal uma criança, um velho ou um cão
Eu sou M de mudança
Que assusta e cansa, mas que será uma renovação
Eu sou M de manjerico
Para perfumar a tua vida, no parapeito da janela ou no S. João
Eu sou M de morte
Final que todo o ser terá um dia, parece assustador, mas não é
É apenas mais uma mudança, que assusta e cansa
Eu sou M de mutação
É a mudança constante da vida, ora boa ora má, ora divertida
Eu sou M de manuscrito
Onde tu já cansada, deixas tudo escrito.
m
DORES TOPÉTE
Eu sou o M
Das madrugadas frias, que gelam e fazem sofrer quem por força do destino não tem uma casa onde se abrigar.
Eu sou o M
Da moralidade, que induz as pessoas a seguirem as regras da ética, ensinando-as a viver com o respeito e liberdade de opinião que devemos ter uns para com os outros.
Eu sou o M
De Maria, a Mãe das mães de todo o Mundo.
Eu sou o M
De mar que traz trabalho e alimentos para as populações do Mundo.
Eu sou o M
Do marasmo, da melancolia, dos medos que assaltam os seres humanos.
Eu sou o M
De Margarida, uma jovem linda, meiga, alegre e responsável, que, tal como as flores com o mesmo nome, alegra e embeleza os locais por onde passa.
n
ALBERTINA VAZ
Sou o N do Não ao abuso de poder, à corrupção, à incompetência, ao tráfego de influências vulgarmente chamado cunha.
Sou o N de Negação à negligência, ao descuido, à forma fácil de deixar para o que vier a seguir.
Sou o N da Norma, do nebuloso, do notável que tudo pode e nada partilha com o outro.
Sou o N do Nunca à falta de oportunidades aos jovens cheios de capacidades e forçados a sair do seu país.
Sou o N do Necessário terminar com as negociatas, as burlas, os salários gigantescos e as reformas por alguns meses de trabalho.
Sou o N do vento Nordeste num mês de Novembro ao cair da noite na cama de cartão do sem-abrigo que mora mesmo à porta do meu bairro.
Sou o N de Nação cheia de narcisos, nardos e narcejas, onde o orgulho de ser português suplanta os recursos que todos sabemos escassos.
Sou o N da Nascer de novo depois duma longa noite em que a ganância e o ódio tomaram conta dos homens e acabaram por os fazer negar os seus semelhantes.
n
MARIA JORGE
- Sou o N de nanar. Como é bom recordar os tempos em que dizia aos meus filhos para irem para a cama.
- Sou o N de narcisista. Há muitos neste país.
- Sou o N de natalidade. Cada vez menos neste mesmo e nosso país.
- Sou o N de Natal. A lareira acesa, a família reunida, crianças meio acordadas meio a dormir esperando a meia-noite. Como será este ano?
- Sou o N de natural. Aquilo que procuro ser no meu dia-a-dia.
- Sou o N de navegador. Por mares nunca antes navegados, assim os nossos antepassados criaram um império. Já não há homens como antigamente.
- Sou o N de né. Vocabulário actual… Modernices…
- Sou o N de nazismo. Nunca mais!
- Sou o N de necessidade. Cada vez mais….
- Sou o N de negro. Noite de Lua Nova.
- Sou o N de negativo. Estado de espírito de inúmeros portugueses.
- Sou o N de neurologista. Profissão em franca ascensão.
- Sou o N de nível. Gostaria muito de saber onde estou.
- Sou N de noite. Agradável uma noite de Lua Cheia.
o
ALBERTINA VAZ
Sou o O de orvalho que sinto ao acordar numa manhã de Outono quando as gotas de chuva dão lugar ao calor do dia.
Sou o O de odor a margaridas e a giestas que crescem livremente nos campos da nossa terra.
Sou o O de Ontem, de Hoje e de amanhã sempre que ouvir, seja o segredo de alguém que escuta um amigo, num dia difícil.
Sou o O do olhar, do olá, da oferta que fazem da nossa vida um dia a dia melhor sem ódio ou opressão.
Sou o O do obstinado que faz da ousadia uma obrigação permanente e uma orientação de vida.
Sou o O do oceano imenso que nos rodeia e que tem marcado a nossa existência como povo de poetas e marinheiros que sempre partem por uma oportunidade e por uma vida que a oeste nos liberte da obsessão do ouro sem trabalho e sem luta.
Sou o O do obrigado pela obra inacabada dum dia a seguir ao outro e duma manhã que se repete sempre que uma janela se abre para um horizonte novo
p
DORES TOPÉTE
Eu Sou P...
De Pátria, País onde se nasce ou se vem a pertencer como cidadão.
Eu sou P...
De paz, sinónimo de tranquilidade, sossego, harmonia e concórdia.
Eu sou P...
De pedante, indivíduo pretensioso, incapaz de ser modesto.
Eu sou P...
De pulmão, órgão que nos faz respirar e sem o qual não viveríamos.
Eu sou P...
De pôr do sol que nos relaxa e faz sonhar com um mundo melhor, em que conseguimos realizar os nossos sonhos.
q
JÚLIA SARDO
– Eu sou o q de quinta onde andam cavalos e vacas à solta, comendo a erva verdinha.
– Eu sou o q de queijo, que é feito do leite das vacas e que é delicioso.
– Eu sou o q de queijada, que é feita com vários ingredientes, quando são desejadas.
– Eu sou o q de quá-quá, que fazem os patos, quando a senhora Quitéria os solta no quintal.
r
ANTÓNIO CAPOTE
Sou o R
Eu sou um R porque um dia atravessou-se na minha vida uma Rosinda que me alterou o rumo da vida levada até então.
Eu sou um R no meu jardim onde proliferam belas flores como aquelas rosas coloridas e árvores de fruto saborosas como a que deu aquela romã, tão gostosamente saboreada hoje ao almoço.
Eu sou o R que me obriga a dar razão a algumas medidas impopulares a alguns responsáveis governamentais.
s
JOSÉ SARABANDO
Eu s ou o S de Saúde
Eu sou o S de Saber
Eu sou o S de Sair
Eu sou o S de Sono
Eu S o S de Silêncio
Eu sou o S de Ser
Eu sou o S de Sorte
Eu sou o S de Sofrer
Eu sou o S de Sentir
Eu sou o S de Sol
Eu sou o S de Sarabando
Embora tendo pouca SAÚDE e não menos SABER gosto muito de SAIR em especial à noite pois como não tenho SONO aprecio o SILÊNCIO da madrugada. Sou um SER com pouca SORTE mas sei SOFRER, gosto de SENTIR a alvorada, saboreando a chegada do SOL pois assim me torno no verdadeiro SARABANDO.
t
ANTÓNIO CAPOTE
Sou o T
Eu sou um T que consegui resistir à tentação de fumar aquele tabaco que nos cega nas montras das tabacarias e que tantos malefícios nos traz (à saúde e à carteira)
Eu sou um T que resisti a entrar naquela taberna onde o vinho tirado directamente do tonel era bebido em quantidades excessivas, sendo responsável pelas constantes transgressões ao código da estrada e turbulência causadas pelos frequentadores assíduos da mesma.
Eu sou um T do tempo em que a tabuada era decorada na escola primária para que tivéssemos tacto e engenho para resolver qualquer problema sem recorrer a calculadoras.
Eu sou o T que sempre gostou de Geografia querendo sempre aprender algo mais sobre a Tasmânia, Taiwan, Tailândia, Teerão, Telavive ou Tunísia.
u
ANTÓNIO CAPOTE
Sou o U
Sou o U que não esquece a história da antiguidade do herói grego chamado Ulisses ou do ultimato inglês a Portugal por causa do mapa cor-de-rosa.
Sou o U que me pude esquivar à ida à guerra do ex Ultramar português, tão defendido pelos ultras do regime.
Sou o U que viu um ultra-leve voar sobre a minha cabeça antes de cair no mar
Sou o U defensor de uniformes para determinadas profissões ou agrupamentos culturais.
Sou o U que gostava que em todo o Universo que é este planeta Terra em que vivemos houvesse paz e pão para toda a gente.
v
VÍCTOR CABRITA
Eu sou o V,
E estava à varanda, voei e claramente visto,
- Vi, em Vilamoura, um veado verde, vagaroso, vagueando por um vasto vale viçoso e vermelho;
-Vi, em Vila Real, um varredor, na valeta, vitimado por uma vassoura voadora vinda de Viana com vertiginosa velocidade;
-Vi, em Vagos, num vagão, um veterinário vacinar uma vaca e uma vitela, com vitaminas, contra a varíola;
-Vi, em Verdemilho, vinte vizinhas, vivas e vistosas, na vindima, devorando uvas à vontade. «Têm a barriga vazia ou prisão de ventre», vaticinei eu;
- Vi, numa viela, nas termas do Vimeiro, um vagabundo vomitando vinho verde num vaso. Que vergonha!
- Vi, em Viseu, Viriato ao volante de um veloz volvo (não tinha via verde);
- Vi, na Vidigueira, Vasco da Gama, ir à vela visitar o vice-rei de Valongo;
- Vi, em Vila do Conde, o visconde de Valadares viajando numa vespa. Vai viver, voluntariamente, para o Vietname. (Era vacilante e foi vencido pelo valente Vizir de Vila da Feira). Vai e já não volta. (O visconde é velho e viúvo);
- Vi, em Varsóvia, um voraz vampiro verrumando a veia de um velho. A veia verteu vinagre e o vampiro morreu envenenado;
- Vi, em vinhais, um Visigodo e um Viking jogando voleibol de praia com dois vândalos. Quem vencerá?
- Vi, na Venezuela, um ventríloquo, doido varrido, já sem voz, dizendo versos de Virgílio. Na véspera, vi-o, às voltas, com uma viola, um violino e um violoncelo dizendo que eram valiosos. Tinham pertencido a Verdi e a Vivaldi.
- Vi Voltaire, à varanda (é meu vizinho). Vai visitar Victor Hugo que está escrevendo “Viagens na minha terra”. Já escreveu, também, as “Vinhas da Ira”, “O Valente Soldado Chveik”, “Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher” e “Viagem ao Centro da Terra”. Venderam-se bem…;
-Vi, no Vouga, sem vida e já viscoso, um vidente vesgo que fazia vaticínios variados, mas só via vultos e tinha vertigens. Viajava num veleiro a vapor. Virou-se, ou melhor visto, viraram-se ambos: O veleiro e o vidente. Vinte viajantes, vinte vítimas. Ninguém lhes valeu. (Veja-se acolá a violência das vagas!...) Vamos adiante…,
- Vi, no Verão, na Vagueira, um vigarista vendendo ventos vindos de uma vulgar ventoinha; vendeu uma vintena, bem aviada. Na véspera, vi-o vendendo vigésimos sem valor (fora de validade); para contar o conto do vigário é preciso ter vocação;
- Vi, em Veneza, uma varina viúva, muito vaidosa, sem vestimentas, dançando a valsa e o vira.
- Vi, em Vila do Bispo, um violento verdugo, com um varapau, num vão de escada, vitimar, vinte e cinco vadios;
- Vi, em Vila Franca de Xira, uma volumosa e vetusta vivenda com varandas com vista para o vulcão Vesúvio;
- Vi, em Vale de Cambra, vasculhando volfrâmio nas veredas, Júlio César vociferar: «Vendi, Vidi, Vici»; e vi, ainda, a rainha Vitória (não confundir com a Rainha Virgem), com um véu, vaporizar-se no vácuo. Só eu vi; ninguém mais. (Não havia câmaras de vigilância e não se via vivalma).
… E tudo isto é verdade, verdadinha… e se não for (aí, valha-me S. Vicente!) e se não for, eu não me chame Victor.
Como aqui já está tudo visto, vou voar para Vénus e viver outra vida cheia de venturas.
Adeus, até à volta!
P.S.: Falta, ainda, ver:
- Verificar o vocabulário (será vernáculo?);
- Os verbos;
- Os pontos e vírgulas e, principalmente,
- As vírgulas.
w
DORES TOPÉTE
Eu sou o W
De Welles (Orson), cineasta norte americano. Celebrizou-se em 1938, ao semear o pânico nos EUA com a difusão radiofónica “A Guerra dos Mundos”. Foi uma interpretação de tal forma real que a população se aterrorizou.
Eu sou o W
De Wagner (Richard), compositor alemão nascido em 1813. Por ter ideias reformistas relativamente à música acabou proscrito do seu país. Compôs entre muitas outras, Tristão e Isolda, uma obra bem conhecida.
Eu sou o W
De Wolf (Virginia), escritora inglesa nascida em 1882. Para além de uma excelente escritora, foi também crítica literária e editora.
Eu sou o W
De West Side Story. Um filme de amor entre jovens da década de sessenta e que se tornou famoso pela história conturbada entre dois clãs juvenis rivais.
Eu sou o W
De Waffle, bolo de massa fluida de farinha de trigo, ovos, leite, fermento, açúcar e manteiga, que se assa numa forma eléctrica própria, podendo servir-se coberto de chocolate, geleia, canela, etc.
x
DORES TOPÉTE
Eu sou o X
De Xadrez, jogo que se joga num tabuleiro com sessenta e quatro casas, em que se fazem mover trinta e duas peças. Ou ainda: tecido em xadrez (desenhos em forma de quadrados de cores diferentes e alternadas).
Eu sou o X
De Xaile, manta de lã ou seda ou ainda em merino que serve de agasalho às mulheres e também como adorno, ex: Xaile de merino dobrado em triângulo e ricamente franjado com que as tricanas de Aveiro passeavam aos domingos.
Eu sou o X
De Xangai, cidade chinesa considerada a mais povoada da china e uma das maiores do mundo. O seu desenvolvimento começou com a abertura ao comércio europeu em 1842, com o algodão, e mais tarde com a siderurgia e as construções mecânicas e ainda as indústrias químicas.
Eu sou o X
De Xifóide, parte inferior do externo que tem a forma de espada.
Eu sou o X
De xenófobo, indivíduo que tem aversão a tudo que seja estrangeiro, especialmente a pessoas de raça e religiões diferentes, ex: estrangeiros emigrantes.
Eu sou o X
De Xiu, termo utilizado para mandar calar ou pedir silêncio.
y
DORES TOPÉTE
Eu sou o Y
De Yalow, cientista norte-americano que juntamente com Guilhermin e Shally, recebeu o Prémio Nobel de medicina e fisiologia em 1977.
Eu sou o Y
De Yale, Universidade norte-americana fundada em 1701, em New Haven.
Eu sou o Y
De Yb, símbolo químico do itérbio.
Eu sou o Y
Antiga letra do alfabeto, actualmente substituída pelo I. Em álgebra representa normalmente a segunda incógnita.
Eu sou o Y
De Yoga, disciplina tradicional hindu que através de um conjunto de exercícios baseados na postura corporal e no controlo dos ciclos respiratórios, visa estabelecer o equilíbrio entre a mente e o corpo.
Eu sou o Y
De Yin Yang, Escola filosófica chinesa do Séc III A.C. que opõe o Yin ao Yang e considera estes dois princípios como complementares ao Tao, o princípio da ordem. Os três são construtivos do mundo.
z
DORES TOPÉTE
Eu sou o Z
Da vigésima sexta e última letra do alfabeto.
Eu sou o Z
De zagaia, lança curta de arremesso constituída por uma haste de madeira e uma ponta de ferro.
Eu sou o Z
De zabumba, tambor grande, o mesmo que bombo.
Eu sou o Z
De Zaira, tragédia de Voltaire (1732) inspirada no Otelo, de Shakespeare.
Eu sou o Z
De Zarco (João Gonçalves), navegador português do séc. XV, que comandou as naus que guardavam as costas do Algarve contra a incursão dos mouros. Descobriu a ilha de Porto Santo em 1418 e a ilha da Madeira um ano mais tarde.
Eu sou o Z
De Zé Ninguém, pessoa insignificante ou sem poder económico.
Eu sou o Z
De Zé Povinho, figura que representa o homem comum.
Eu sou o Z
De zarpar, termo náutico que significa erguer a âncora levantar ferro, navegar.
4 comentários:
Pena o alfabeto não ter mais letras!
Parabéns e Feliz Natal para todos!
Com um alfabeto assim, só nos resta esperar que algum letrado resolva adicionar mais letritas ao mesmo, para que não paremos de ler e de nos surpreender com a originalidade e a criatividade com que mais uma vez os alunos da US nos brindam!
Na parte que me toca, e como pai da Duda e tio da Ana, não posso esconder que a letra D foi a minha preferida (não fosse também eu o Daniel).
Bom Natal para todos!
Gostei muito de ler o vosso alfabeto!
Criativo?
Mas quem se surpreende com tais alunos e tal professora?
Eu, não!
MENINAS e MENINOS, estão de parabéns pela vossa criatividade. No meio dela vi revelada grande sabedoria e vivência de Vida. Gostei muito. Parabéns à Professora.
Beijinhos para todos
Alice Paiva
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