segunda-feira, 8 de março de 2010

Visita de estudo à Quinta da Regaleira – Sintra





Para quando a próxima visita de estudo?

Maria Jorge (Canim), Texto
Custódia Lopes, Fotos

Penso não ser exagero, quando, eventualmente, poderemos comparar a nossa Universidade a um bebé. Tal, como ele, quando dá os primeiros passos anda um pouco trémulo e hesitante e vai melhorando dia a dia até andar com passo firme. Também nós, à medida que o tempo vai passando, nos vamos sentindo mais firmes nas nossas convicções e decisões.
Tendo uma aula de “Cultura e Oficinas Literárias”, na sequência da matéria, foi-nos sugerido, pelo Professor André Matias, uma visita de estudo à Quinta da Regaleira - Sintra, no passado dia 27 de Fevereiro (sábado). Prontamente nós acedemos. No entanto, esta viagem seria alargada a todos os alunos da Universidade Sénior e iríamos de autocarro cedido pela Câmara Municipal de Ílhavo.



De antevéspera, tudo combinado, dúvidas esclarecidas, explicados todos os pormenores, e, à hora marcada, estávamos 39 pessoas, incluindo o Professor (que nos serviria de guia), alunos e algumas pessoas da Direcção, incluindo a nossa Directora Dra. Maria Cândida Silva. Sim, porque Direcção que se preze, acompanha os seus alunos. Uns, porque iriam aproveitar o passeio e conhecer Sintra, outros porque iriam conhecer a Quinta e outros ainda porque a iriam rever.
Durante todo o dia de sexta-feira, alertas máximos na TV, grande temporal que se iria abater na nossa zona, inclusivamente pediam às pessoas para saírem de casa só em caso de necessidade. De certeza que passou pelo pensamento de alguém a sua desistência (até porque algumas pessoas já conheciam a Quinta), mas tínhamos assumido um compromisso e tínhamos de o respeitar.




Eram sete horas e vinte minutos, debaixo de chuva, carregados de impermeáveis, agasalhos, chapéus-de-chuva e lanche (sim, porque não havia paragem para almoço), rumámos a Sintra com algum receio.
Com uma paragem de cerca de vinte minutos, mais ou menos a meio do caminho, lá fomos nós tomar o nosso cafezinho da manhã. Qual pai a recomendar o seu filho, o nosso Professor André, que tem 28 anos, a lembrar aos seus pupilos e não só, da medicação que tinham de tomar.
Chegados a Sintra, por volta das onze horas, não tínhamos tempo a perder. O dia estava óptimo, tipicamente de Sintra, sem chuva, era altura ideal para começarmos a visita. Uns seguiam o Professor, os outros iriam onde quisessem e estaríamos todos reunidos cerca das dezasseis horas, junto à Piriquita (quem vai a Sintra, obrigatoriamente, tem de fazer lá uma paragem).



Dada a sua complexidade, não podemos reter na nossa memória tudo que vimos. No entanto, aqui deixamos, talvez, as mais expressivas.
A Quinta da Regaleira está situada em pleno Centro Histórico de Sintra, actualmente classificada como Património Mundial pela Unesco e foi adquirida por António Augusto Carvalho Monteiro, posteriormente conhecido por “Monteiro dos Milhões”, o qual viveu entre 1848 e 1920. Filho de pais portugueses emigrados no Brasil, adquiriram a sua fortuna incalculável na exploração de café e pedras preciosas. Cedo veio para Portugal, licenciando-se em Leis pela Universidade de Coimbra.
Aliando os seus sonhos mito-mágicos ao talento do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini, que viveu entre 1848 e 1936, no principio do século XX edificaram um conjunto de construções tão fascinante, quanto mítico e esotérico. Nada foi deixado ao acaso.




Como o Professor André nos dizia, não basta conhecer a Quinta, temos de “a sentir”. Toda ela está repleta de simbologia, onde se cruzam mitologia, lendas e alquimias. Cada pedra filosofal, cada estátua, cada rua, cada recanto, cada jardim, aquele carvalho onde foi posto, aquele leão, aquele fabuloso conjunto de torreões que nos oferecem paisagens deslumbrantes, tudo tem um significado e tudo é misterioso; os dois poços com escadaria em espiral, o número de degraus de cada escada, o último poço que no fundo tem uma estrela de oito pontas, onde primeiro temos de descer, para depois subirmos e nos sentirmos renascer; a passagem do túnel do poço cavaleiresco que  temos de atravessar completamente nas trevas para depois recebermos a luz do dia, tendo obrigatoriamente de atravessar os lagos, onde foram colocadas pedras para alcançarmos o outro lado da margem, passando antes por uma queda de água, como que a purificar - nos.
A construção dos edifícios é uma mistura dos estilos, gótico, manuelino e renascença. De realçar a igreja da Santíssima Trindade a invocar a aventura dos Cavaleiros Templários, de uma rara beleza, impressionante, onde, muito embora tudo se cruze, nunca encontramos um crucifixo; com vitrais impressionantes, vamos descer à cripta onde podemos sentir, com emoção, a presença do além.
Finalmente, o Palácio também ele repleto de simbolismo e riqueza. Na parte exterior podemos admirar a figura da Rainha Santa Isabel que, no regaço, em vez de pão tem pombas brancas; no interior, o salão de caça onde podemos ver pedrinha sobre pedrinha no chão e paredes, que, apesar dos anos, o tempo não corrompeu as aves ou as figuras geométricas; nas outras dependências do Palácio, podemos ver os tectos com a sua madeira impecavelmente talhada, aquele chão em madeira disposto geometricamente que parece intacto, a escadaria como foi edificada; candeeiros em ferro forjado, devidamente e ricamente trabalhado.




Pensamos que muita coisa ficará por dizer, mas, para quem já conhecia a Quinta, ficou a vê-la com outros olhos; para quem não a conhecia, ficou com vontade de lá voltar. E tudo, porque tivemos um extraordinário guia, que temos a certeza empregou toda a sua admiração e conhecimento ao nosso serviço. Por tudo, os nossos agradecimentos ao nosso belíssimo Professor André.
Para aqueles que não foram ver a Quinta (nem todos puderam ir, por uma questão de saúde), ficaram sem conhecer Sintra.
Novamente juntos, e, como estava combinado, lá fomos à Piriquita comprar os doces de recordação e matar um pouco a nossa gula.
Entretanto, o autocarro apareceu e era altura de regressarmos, já que começara a chover e o trânsito iria ficar cortado.


Tínhamos combinado jantar a meio da viagem, mas tal não foi possível. Havia um grande temporal na nossa zona e estávamos preocupados pois que algumas pessoas tinham, entretanto, sabido que havia por aqui árvores caídas, inclusivamente numa carrinha da nossa Universidade e em casa de, pelo menos, duas colegas nossas; também a casa do nosso Professor André tinha sido afectada por falta de energia e estava com a cave alagada. Era tempo de regressarmos tão depressa quanto possível.
De regresso a casa, a nossa viagem foi extraordinária, apenas com algumas dores nas pernas e pés (afinal somos seniores, não é verdade?).


Não nos queremos despedir, sem deixarmos os nossos agradecimentos ao Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo e ao motorista do autocarro pelo belíssimo trabalho. Levou-nos e trouxe-nos com elevado profissionalismo.
Recentemente, alguém disse: não sei se há Deus, mas tenho a certeza que tenho um anjo-da-guarda.
E agora perguntarmos à nossa Direcção: para quando a próxima visita de estudo?



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