Eles são os nossos filhos...

Eles são a “geração rasca”, a “geração dos 500”,

a “geração parva”, a “geração à rasca”,

eles são …os nossos filhos!

Sim, eles são os nossos filhos, aqueles que gostávamos que fossem melhor e mais felizes que nós, como os nossos pais desejaram em relação aos seus filhos que somos nós.

Uns dizem que eles tiveram de mais e por isso mesmo não se contentam com aquilo a que chegaram. Outros dizem que estudaram demais porque para “subir na vida” é só preciso um pouco de sorte e trabalho; outros dizem que a cabeça deles está cheia de “aspirações” e ficam à espera que tudo lhes cai de graça nas suas mãos. Outros dizem que “os bons” conseguem lá chegar e que “os medíocres” nunca serão ninguém.

Outros ainda exigem que eles sejam os primeiros. Ser segundo ou terceiro é mau porque o que importa é ser o primeiro. É assim nos concursos, nos desfiles, nos empregos, na vida.

Podem todos ter razão, ou podem não ter nenhuma. Não sei! Só sei que eles são os meus filhos e que quero para eles o melhor do mundo. E para mim o melhor do mundo não é uma boa casa, um bom carro, um bom emprego, umas férias se possível lá fora… o melhor para mim é que eles sejam felizes!

E será que podem ser felizes, os nossos filhos?

Estudam, mesmo que com muito êxito e excelente aproveitamento, até muito tarde porque não lhes basta ter uma licenciatura para terem um emprego. Tem de continuar a estudar e isso até não seria mau se o conseguissem conciliar com o resto da sua vida. Sair de casa dos pais, casar, ter filhos, tem de ficar sempre para depois porque a competitividade do mundo em que vivemos exige cada vez mais ausência de horários, trabalho que levam para casa, férias do ano que vem, datas não festejadas, vida adiada…

E alguns têm de viver a quilómetros da família que constituem, ou procurar uma vida na Europa, ma América, em África onde são excelentes trabalhadores mas onde permanecem desenraizados, sem um circulo de apoio, sem um conjunto de afectos.

Até já estou a ouvir alguém dizer: e nós não nos fartámos de trabalhar? Eles agora querem é continuar com a vida fácil que sempre lhes demos!

Nem sequer vou falar do desemprego que atinge mais de 23% dos nossos jovens, do trabalho precário, dos recibos verdes, da ausência de horários. E das casas que são um enorme encargo no orçamento familiar, e da saúde que é tão deficiente em alguns casos, e da educação que põe os filhos a sós enquanto eles estão a trabalhar, e das crianças que não podem brincar na rua porque ela deixou de ser segura…

Só gostava que encontrassem o seu próprio caminho, porque o caminho deles tem de ser diferente do nosso, porque o caminho duma geração tem de ser percorrido a sós ou em grupo, conforme quisermos, mas todos a olhar numa mesma direcção.

E aqueles que criticam os subsídios de desemprego, o rendimento social de inserção, os subsídios… que tal pensarem igualmente que os jovens que hoje são os nossos filhos não terão direito a reforma e estão condenados a trabalhar toda a vida e a morrer nos seus empregos, aqueles que o tiverem. Isto se entretanto a sua voz não se fizer ouvir e eles não tiverem capacidade de criar uma sociedade diferente em que cada um tenha o seu lugar e ninguém continue a procurar o ter em detrimento do ser.

Às vezes começo a pensar nas primeiras sociedades humanas em que cada um tinha tudo o que necessitava trocando o que lhe sobrava pelo que não possuía. É claro que nesse tempo o progresso era feito de uma forma diferente mas era progresso.

Depois começámos a querer sobrepormo-nos aos outros, a pensar que uns homens podiam escravizar, ser donos de outros e aí começou a decadência da humanidade, de todos nós.

Afinal tudo poderia ter sido bem mais simples: o mundo em que vivemos é belo demais para o disputarmos com tanta competição. Afinal uma flor será sempre uma flor por mais ciência que lhe queiramos introduzir.

Está agora nas mãos dos nossos filhos dar ao mundo o que lhe pertence e criar para os nossos netos um local melhor do que aquele que criamos para eles. A nós, os velhos, resta-nos apoiá-los com toda a nossa força como quando os vimos a dar os primeiros passos e a cair e os ajudámos a levantar de novo e a cair e a ficar de pé.

Albertina Vaz