sábado, 30 de janeiro de 2010

Nau Portugal

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Convívio de aniversários: 27 de Janeiro

Aniversariantes
A viola e o mestre estão sempre na festa
O apetite nunca falta


Todos os Outonos da vida
podem ser eternas Primaveras

Hoje, 27 de Janeiro, mais uma vez nos reunimos para comemorar o aniversário de alguns colegas da Universidade Sénior da Gafanha da Nazaré. Sénior porque é dos grandes em idade, em experiência de vida e da Gafanha, a terra que me viu nascer, a terra dos meus antecessores, a terra que trago no coração e, permitam-me dizer com algum egoísmo, a minha Gafanha. Esta Gafanha com sabor e cheiro a mar e que tem mais encanto em noites de lua cheia. Esta Gafanha que combina o mar e a ria numa paleta de cores que encanta os olhos de quem nela vive. Esta Gafanha de tantos homens de bem, que souberam aproveitar os sacrifícios dos seus avós e se tornaram os grandes homens que são hoje. É um punhado destes homens e mulheres que fazem da nossa Universidade aquilo que ela é: um grupo de colegas de trabalho, de estudo, que se junta para conviver à roda da mesma mesa, num ambiente cheio de calor humano que aquece os nossos corações. É difícil explicar o que sentimos quando nos juntamos e, sem querer, recuamos no tempo como por magia, e voltamos à nossa juventude com toda a alegria de viver. Foi neste ambiente de boa disposição, e deixando transparecer nos nossos olhos a alegria que tínhamos no coração, que decorreu a festinha de aniversário dos nossos colegas.
A todos um abraço de amizade, com votos de muitas festas repetidas, porque todos os Outonos da vida podem ser eternas Primaveras.

Odete Filipe

Primórdios da Gafanha - I

Século XVII — Os registos mais antigos garantem que nesta faixa se fixaram, no século XVII, os avós dos gafanhões que, no princípio do século XX, quiseram organizar-se como comunidade administrativa e religiosa, pugnando por aquilo que consideravam ser justo para a sua identidade, enquanto se reviam como sociedade organizada, trabalhadora e solidária. Eram fundamentalmente agricultores. Ainda não seriam identificados como gafanhões.


1677 — Em 1677, afirma o Padre Resende na sua MG, que «São feitos aforamentos por leiras, sendo de concluir que a cultura dos areais da Gafanha fosse anterior a essa data. Seriam seus agricultores os primitivos povoadores da Gafanha: Manuel da Rocha Tanoeiro, de Vagos; António Matias; Manuel Rodrigues Chino; Manuel Alves Zagalo; Domingos Francisco Bico.»

De 1677 a 1727 — O «Conde de Aveiras, ao tempo directo senhorio das Quintas da Mó-do-Meio, Preguiceiro e Carramão, isto é, de toda a orla que borda a Ria desde o actual Estaleiro até à mota que dá passagem para a Costa Nova», faz «vários aforamentos dessas quintas por leiras e, por último, vende-os ao capitão-mor, Luís da Gama Ribeiro Rangel de Quadros e Maia, governador da Barra de Aveiro e Juiz da Alfândega e seu pai Carlos Ribeiro da Maia, de Aveiro, que por sua vez as venderam por arrematação a Francisco António Camelo, o qual as deixou por herança a seu filho Fernando José Camelo, e este juntamente com toda a sua casa as deixou por testamento a seu segundo primo João Lopes Ferreira». (MG)

1800 — A Gafanha era já bastante povoada, na sua maioria por foreirosm, e em 1808, a 3 de Abril, Luís Gomes de Carvalho, «pelas sete horas da tarde, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota, no frágil obstáculo que separava a ria do mar, deu passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica, depois de uma opressão que durara sessenta anos», como escreveu o Comandante Rocha e Cunha, em 1923. É altura de sublinhar que a Gafanha muito ficou a dever à nova Barra de Aveiro, podendo nós, com propriedade, dizer que a nossa terra é filha do porto.

1818 — Dez anos depois, em Abril de 1818, é assinada a escritura da Capela de Nossa Senhora da Nazaré no lugar da Gafanha e em 21 de Março de 1835 dá-se a transferência religiosa da Gafanha, de Vagos para Ílhavo. A desanexação civil acontecerá, oficialmente, em 31 de Dezembro de 1853. Porém, somente em 24 de Outubro de 1855 é que, na prática, tal aconteceu. Há quem defenda que foi em 19 de Setembro de 1856.

FM

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Convívio de aniversários: 27 de Janeiro, às 15 horas



(Clicar na imagem para ampliar)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Rua Afonso de Albuquerque


A Minha Rua


Como todas as ruas da Gafanha da Nazaré, a minha começou por ser um caminho desbravado e pisado pelos pés das pessoas. Era estreito e foi alargando, porque era necessário passar com os carros de bois, amanhar as terras, que apelidavam de “crastas”.
Entretanto, os filhos dos proprietários das mesmas foram construindo as suas casas, ao longo do caminho, alargando-o.
Como o Sr. Luís Pires tinha um armazém onde guardava as suas camionetas, que faziam o transporte de areias, houve necessidade de alargar o caminho um pouco mais e ensaibrá-lo.
Segundo ouvi, de uma Senhora, foi quando construiu a sua casa, mais ou menos há quarenta anos, que a rua foi alcatroada.

Maria Júlia Sardo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

As Mulheres da Gafanha




"BRAVAS MULHERES, AS DA GAFANHA!"

As mulheres da Gafanha merecem um estudo profundo sobre o seu papel na construção das povoações e das comunidades desta região banhada pela Ria de Aveiro. É certo que alguns estudiosos e escritores de renome já se debruçaram sobre elas, cantando loas à sua tenacidade e coragem, mas também ao seu esforço, desde sempre indispensáveis na luta de transformação de areias improdutivas em solo ubérrimo.

Há décadas, e é sobre essas mulheres que nos debruçamos, elas eram as mães solícitas e amorosas dos filhos, mas também os “pais” que garantiam o sustento da casa, enquanto os maridos se aventuravam nas ondas do mar na busca de mais algum dinheiro que escasseava em terra.

Em jeito de desafio a quantos podem e devem, pelos seus estudos e graus académicos, retratar as nossas avós, com rigor histórico, já que, hoje e aqui, não há lugar nem tempo para isso, apenas indicamos algumas pistas, que há mais de 50 anos nos foram oferecidas por Maria Lamas, na célebre obra “As mulheres do meu país”, que viu há tempos a luz do dia em 2ª edição, numa iniciativa da “CAMINHO”, e que tão esquecida tem andado.



Na década de quarenta do século passado, Maria Lamas, que faleceu em 1983, com a bonita idade de 90 anos, andou pelas Gafanhas, mais concretamente pela Gafanha da Nazaré, olhando, conversando, retratando e estudando as nossas avós. “O esforço da mulher na labuta comum e a sua influência no desenvolvimento da Gafanha são apontados, em toda a região de Aveiro, como um exemplo admirável”, afirma a escritora, depois de se referir, a traços rápidos, à localização da região que estudava, e de citar as areias e os ventos, as marés e a vegetação, as batatas e os cereais, as salineiras e as pescadeiras, as trabalhadoras das secas do bacalhau. E foram, sobretudo estas, as mulheres das secas, as que mais a entusiasmaram, ou não fossem elas o exemplo claro da camponesa e da operária na mesma pessoa.

“A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões.



“Na referência a esta actividade feminina focaremos em especial a Gafanha, visto ser ali que ela atinge o maior desenvolvimento, como é também ali que existem as mais importantes secas do bacalhau de todo o País.” Assim escreve Maria Lamas, que acrescenta: “Pelos costumes e ambiente em que vivem e ainda porque tanto se entregam à lavoura como à faina da seca ou qualquer outra que se lhes proporcione, elas conservam, sob certos aspectos, a mentalidade da mulher do campo; mas a disciplina das tarefas realizadas em comum ou distribuídas numa coordenação de actividades, o sentido das responsabilidade, os horários fixos e ainda o contacto com outras realidades directamente ligadas ao seu próprio esforço vão-lhes dando uma noção diferente da vida e criando consciência da importância do seu labor.”

A escritora que andou pela nossa região recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua “ignorância”, o conceito de “fatalismo, a que subordinam o seu destino”, mas também o instinto de “defesa dos seus interesses”, tornando-as “solidárias”. E sublinha: “No vestuário revelam maior cuidado na limpeza do que as camponesas, que saltam da enxerga, estremunhadas, antes do luzir do dia, e lá vão, para a labuta sem fim, indiferentes à água, ao sabão, ao pente... “Não se imagine, porém, que as mulheres do povo, naquelas circunstâncias, têm uma vida mais leve e fácil, em relação às suas irmãs que permanecem em contacto permanente com a terra. Com muito poucas excepções, elas fazem longos percursos, de manhã e à tarde, porque moram longe do local onde trabalham. Também, de uma forma geral, todas aproveitam algumas horas que lhes fiquem livres para ajudar na modesta faina agrícola da família, seja regar o milho, ir ao mato e à lenha ou tratar dos animais. “A sua vantagem não está no aligeiramento das tarefas, mas sim na mudança do ambiente, na variedade dos assuntos que lhes prendem a atenção e no convívio com as companheiras.” Assim – sublinha Maria Lamas –, as mulheres das secas do bacalhau são “desembaraçadas, faladoras e alegres, como se a vida lhes não pesasse.



Em conjunto, nas horas de plena actividade, cantando em coro ou simplesmente escutando os programas de rádio, que um amplificador de som leva a todos os recantos das instalações onde trabalham [EPA – Empresa de Pesca de Aveiro], elas constituem um quadro pleno de vitalidade e optimismo”. Refere, depois, o que é o trabalho árduo destas mulheres, desde descarregar, lavar, salgar e levar o bacalhau, todos os dias, para as “mesas” da seca, para depois, mais tarde, empilhar, seleccionar e enfardar. Diz que elas andavam muitas vezes descalças, “apesar do perigo constante de se ferirem, com as espinhas e barbatanas que se encontram espalhadas pelo chão”. E acrescenta que uma ou outra consegue arranjar botas de borracha, “presente do irmão ou noivo que foi aos bancos da Terra Nova”, sublinhando que estas “são consideradas, pelas colegas, como privilegiadas”.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dia de Reis na Universidade Sénior




À roda da fogueira da amizade,
os nossos olhos brilham mais

Tarde fria de Janeiro. Tarde de Inverno, sem chuva, sem vento, mas de sol morno, aquele sol que nos aquece a alma sempre que nos juntamos.
À roda da fogueira da amizade, os nossos olhos brilham mais. Brilham de alegria e de paz neste Outono da vida. Uma vida que devemos viver intensamente a cada momento que passa, pois cada instante é único, irrepetível.
Uma vida feita de coisas belas, feita de retalhos de saudade de outros tempos.
E é por isso que, sempre que nos juntamos, as nossas vozes e o som das cordas dedilhadas das guitarras, são a expressão da nossa alegria de estarmos juntos neste barco da vida.
Foi neste ambiente de alegria que comemorámos o Dia de Reis, na nossa Universidade, num espaço que é de todos, que nos acolhe com carinho e onde gostamos de estar.

Odete  Filipe

Janeiro 2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Olhei os teus olhos de avelã





Olhei os teus olhos de avelã

Olhei os teus olhos de avelã
e sorri…
sorri para enganar o tempo,
sorri para me enganar a mim.
E o tempo que é bom enganador
sorriu três vezes e pôs-se a pensar…
que era melhor partir
para mais tarde… voltar.
Olhei os teus olhos de avelã
que já não sonhavam
que já não sorriam,
olhavam, mas em silêncio de medo
já nada viam…
E os teus olhos de avelã
pararam no tempo…
E o tempo chegou
e contigo ficou nessa manhã,
em que pararam no tempo
os teus olhos de avelã.
Lá fora, o sol da Primavera
veio brincar nos teus cabelos brancos
e nas ervas dos campos
que pisaste no caminho…
Lá fora o sol da Primavera
vestiu de verde as flores
que te viram sorrir…
Lá fora o tempo não parou
E correu apressado.
Olhei os teus olhos de avelã
e tristemente sorri.
Olhaste, mas… já não viste.



Odete Filipe

Um dos sonhos era ver, um dia, o Menino Jesus trazer as prendas



Os Natais da minha infância


À medida que crescemos em idade, descobrimos que é bom recordar momentos da nossa vida como se fossem flores que compõem um ramo. Aprendemos a dar valor às pequenas coisas, como o sentir da aragem no rosto, ao Sol morno do Outono… a vida em cada momento da Natureza. Queremos dar forma às lembranças que brotam em tropel, como cavalos à solta, mas, a mão não acompanha o turbilhão dos nossos sentimentos. Eles são rápidos numa cavalgada imparável pela vida, levantando nuvens de saudade dos tempos que não voltam mais.
Lembro com muita saudade os meus tempos de criança e particularmente os Natais da minha infância; esses Natais cheios de magia, feitos de coisas simples com sabor a paz, esses Natais vestidos de frio na altura certa do ano e, em que sentada à lareira na cozinha da avó, sonhava com o dia de Natal, e com aquilo que o Menino Jesus iria trazer. Os meninos da minha infância não pediam nada, aceitavam tudo com agrado, sem fazerem birras.
Os nossos olhitos de criança brilhavam ao clarão das lareiras nas cozinhas, onde a família se reunia, e sonhavam… sonhavam com qualquer coisa que o Menino pusesse no sapatinho.
Lembro-me bem de acreditar por completo, Naquele Menino que eu via na igreja da minha aldeia. Era um Menino pequeno, e eu não entendia como é que sendo Ele tão pequenino, conseguia trazer as prendas para os meninos. Mais complicado era saber que Ele tinha de passar nas chaminés todas sujas de fuligem sem se sujar! Mas acreditava! Era Jesus!
Passei os Natais sempre com os meus avós maternos, os meus pais e mais tarde a minha irmã (temos 9 anos de diferença). À ceia, no dia de Ceia, sempre se comeu o bacalhau cozido com batatas e a hortaliça da horta da avó. A refeição terminava com as fatias (rabanadas), os bilharacos, que a avó tinha a seu encargo, os figos secos, algumas nozes e o bolo-rei. Do bolo, recordo o prazer que me dava esperar pelo brinde e pela fava que ele trazia, coisas de pouca monta, mas que eram guardadas com carinho.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Crianças austríacas na Gafanha da Nazaré


Padre Bastos com Erica, Eneida e Irene Pill


Um sonho tornado realidade…
Foi lindo, muito lindo… comovente!


Após a II Guerra Mundial, Portugal acolheu centenas de crianças, algumas austríacas, que, no nosso país, passaram alguns meses, por vezes anos, ou até mesmo aqui ficaram a viver.

Em toda esta campanha de solidariedade para com as vítimas da Guerra, o papel da Cáritas Portuguesa foi fundamental, podendo mesmo dizer-se que constituiu a sua génese, em Portugal.
A Gafanha da Nazaré não podia deixar de participar nesta acção de solidariedade, sendo os seus habitantes gente de bem, de coração grande, hospitaleira e sempre disposta a acolher quem precisa. Foi o que aconteceu. Era eu ainda pequena, talvez com os meus cinco anos, e recordo a chegada de muitas crianças, todas elas com um cartão pendurado ao pescoço, com a respectiva identificação, acompanhadas pelo pároco da freguesia, na altura o Padre José Henrique da Eira Bastos, a quem foram entregues. Apesar da enorme tristeza que se lhes lia nos olhos, eu estava feliz, pois ia ter como companhia duas delas – a Irene Pill e a Rosemarie Lanner- ambas uns anitos mais velhas do que eu.


Erica, Padre Bastos e Rosemarie

Como outra coisa não seria de esperar, a adaptação não foi nada fácil: a língua, os costumes, a alimentação … tudo novo para uma criança ou jovem que, pela idade, deveria estar no aconchego e carinho das suas famílias.
Mas, com o passar do tempo, algumas destas dificuldades foram ultrapassadas e, espantosamente, até conseguiram andar na Escola, da qual saíram a falar e a escrever Português. E, caso curioso, ainda hoje mantêm essa aprendizagem, devido ao facto de se corresponderem com as suas “madrinha / padrinho” ou mesmo “mamã / papá”, como apelidavam aqueles que os tinham acolhido.

HISTÓRIA DA RUA D.FERNANDO




Qual a sua origem?

Como tantas outras ruas na nossa aldeia, em tempos remotos, seria unicamente um simples carreiro, se assim se lhe poderia chamar, ou apenas uma extrema de divisão de terrenos, todos de cultivo. Para além de uma vala que vinha do lado poente e que atravessava o cruzamento da Avenida em direcção à estrada da Chave, nada mais existia.
Com o decorrer do tempo, esse carreiro foi alargado para dar acesso a passagem de carros de bois.
No sentido nascente/poente fazendo esquina com a rua D. Manuel Trindade Salgueiro, existia um grande quintal com um muro alto pertencente a uma grande casa para a época. Esta fazia esquina com a rua Trindade Salgueiro e a Avenida José Estêvão , existente até ao início do primeiro mandato do Presidente da Câmara de Ílhavo, Engenheiro Ribau Esteves. Nesse quintal havia uma enorme figueira que ainda hoje se mantém.
Do lado esquerdo, também fazendo esquina com a mesma rua, havia o chamado Teatro Cine Triunfo. Esta sala de espectáculos, para a época, era muito boa. Foi mandada construir por dois sócios: um ligado ao mar, o Capitão Santos, natural de Ílhavo, e o outro, o Ti Zé Vieira (lavrador bastante abastado). Assim a rua começou a chamar-se “Caminho do Cinema”.